Preocupação

Safra de camarão em 2024 continua desacreditada na região

A menos de um mês do início da captura, pescadores têm pouca esperança de encontrar o crustáceo na Lagoa dos Patos

Foto: Jô Folha - DP - Pescadores, em sua maioria, sequer se prepararam para a safra devido a falta de esperanças

Péssimas expectativas e pouca esperança. Esse é o clima na Colônia de Pescadores Z-3, em Pelotas, quando o assunto é a captura de camarão. A menos de um mês do início da safra, que começa no dia 1º de fevereiro, ainda não há sinais da espécie nas águas da região e pescadores já descartam a temporada deste ano por conta das chuvas e cheias da Lagoa dos Patos nos últimos meses.

O presidente da Associação de Pescadores da Z-3, Nilmar Conceição, afirma que, com pouca fé na safra de camarão, a tainha deve garantir alguma renda à comunidade. “A expectativa do pescador é pescar tainha, porque essa pode entrar na Lagoa ainda e pode pescar até mais tarde”, observa. Conceição garante que o prejuízo é incalculável. “Os pescadores contraem dívidas para trabalhar o camarão, esse ano eles não vão nem fazer. Se em outubro tivesse entrado a larva [na Lagoa], eles estariam fazendo empréstimo, se organizando. Só uma rede, por exemplo, é R$ 500”, observa, destacando que esses impactos também afetam quem comercializa o pescado e até mesmo os próprios materiais de pesca.

O presidente avalia que, neste momento, a comunidade, que conta com cerca de 800 pescadores, já está pensando na safra seguinte. “Estamos vendo que não vamos ganhar dinheiro suficiente para pagar as contas. Agora é se virar e já pensar no ano que vem”, diz. Entre os prejuízos causados pelas chuvas à safra e à estrutura dos pescadores, Conceição comemora que o seguro-defeso, um dos grandes auxílios da classe quando não há liberação para pesca, foi repassado em dia para todos os pescadores que tinham direito no último ano. Amanhã, uma reunião do Comitê Gestor das Feiras de Pescado em Pelotas deve definir se, diante da ausência do crustáceo, ainda será realizado o tradicional evento de abertura da safra de camarão.

Prejuízos e expectativas

Em um pequeno galpão à beira da Lagoa, o pescador Sandro Pinto, 54, mostra os estragos das cheias no local, que está até agora com parte do chão destruído. “A água passou aqui por dentro [da construção], tinha uma correnteza. Quebraram embarcações, se perderam redes”, relembra. Há 33 anos trabalhando com pesca, ele vê pouca chance de camarão e diz que a comunidade está receosa em investir na preparação para a safra. “O pescador está descapitalizado. Quem tem um dinheirinho, não investe. E se tu investir e não der em nada? Tem que pagar as contas, comer”, diz. Apesar das dificuldades, a esperança por uma surpresa da natureza nunca se esgota. “Tomara que depois da Festa de Navegantes tenha alguma coisa. Pescador está sempre acreditando. A esperança é a última que morre”, diz.

Cientificamente falando

O professor e pesquisador do Instituto de Oceanologia da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), Luis Gustavo Cardoso, confirma as impressões. No período em que as larvas do crustáceo chegam do mar para crescer na Lagoa, houve muita chuva. “Bem nesses meses em que há esse comportamento natural do ciclo de vida da espécie, choveu muito. A pressão de água era de saída do estuário. A gente sabe que o estuário não foi fertilizado com as larvas que normalmente entram do fim de setembro até dezembro, e que são os principais indivíduos da safra em fevereiro”, explica.
Os impactos destes meses atípicos para a pesca a longo prazo ainda são incertos, mas o especialista garante que, em relação à sobrevivência da espécie, não há com que se preocupar. “De forma geral, os organismos marinhos têm estratégia de alta fecundidade. Mesmo que diminua o número de indivíduos que vão participar da etapa reprodutiva, cada indivíduo é muito fecundo. A quantidade de indivíduos na primeira etapa da vida é muito alta sempre, o que já é uma estratégia para se defender em períodos como esse”, finaliza.

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